A mártir Isabel Cristina Mrad Campos, morta em 1982 aos vinte anos por um homem que tentava estuprá-la, foi beatificada dia 10, em Barbacena (MG), sua cidade natal, em missa celebrada pelo representante do papa Francisco, o arcebispo emérito de Aparecida (SP), cardeal Raymundo Damasceno Assis.
“Peçamos a Jesus a graça, por intercessão de Isabel Cristina, de aceitar as angústias e os desafios da vida cotidiana. Não tenhamos medo jamais”, disse o cardeal, ao destacar que nem todos são chamados ao martírio de sangue, mas todos devem viver no cotidiano o martírio do amor.
A missa de beatificação aconteceu no Parque de Exposições Senador Bias Fortes e, segundo a arquidiocese de Mariana, contou com a presença de cerca de 10 mil pessoas de Barbacena e cidades da região. Estiveram presentes o arcebispo de Mariana, dom Airton José dos Santos, o arcebispo emérito de Mariana, dom Geraldo Lyrio Rocha, o arcebispo de Juiz de Fora (MG), cidade onde a beata morreu, dom Gil Antônio Moreira, além de outros bispos, padres, diáconos e religiosos.
Após o ato penitencial, aconteceu o rito de beatificação. O postulador da causa, Paolo Villota leu a biografia da mártir e o cardeal Damasceno leu, em latim, a carta apostólica que declara Isabel Cristina beata. A mesma carta foi lida em português pelo coordenador geral da cerimônia de beatificação, monsenhor Danival Milagres Coelho, com o anúncio de que a beata será celebrada no dia 1º de setembro, data de seu martírio. Em seguida, foi revelada a imagem oficial da beata Isabel Cristina e houve a entrada da relíquia dela, levada por seu irmão, Paulo Roberto Mrad Campos.
Isabel Cristina Mrad Campos nasceu em 29 de julho de 1962, em Barbacena, filha de José Mendes Campos e Helena Mrad Campos, que já morreram. Desde a adolescência, fez parte da Associação de Voluntariado das Conferências de São Vicente e seu pai foi presidente do Conselho Central de Barbacena. A beata participava frequentemente da missa e dos sacramentos.
Em 1982, Isabel Cristina, que queria estudar medicina, mudou-se para Juiz de Fora a fim de fazer um curso pré-vestibular. Seu sonho era ser pediatra para ajudar crianças carentes.
Naquele mesmo ano, ela preparava um pequeno apartamento para onde havia se mudado com seu irmão, Paulo Roberto Mrad Campos. No dia 1º de setembro, um homem que foi montar um guarda-roupa tentou violentá-la, mas Isabel resistiu. Diante da resistência dela, o homem lhe deu uma cadeirada na cabeça, amarrou a moça, amordaçou e rasgou suas roupas. Como ela não cedeu, o agressor lhe deu 15 facadas, matando-a.
A família de Isabel Cristina esteve presente na cerimônia de beatificação. A tia da beata, Maria das Graças Mrad, disse à ACI Digital que, para os familiares, “foi um choque muito grande a morte dela”. Agora, afirmou, “é uma alegria muito grande para a família, para Barbacena, chegar a este momento da beatificação”.
Maria das Graças contou que conviveu com Isabel Cristina “desde que ela nasceu”. “Era uma menina muito religiosa, na escola, nas convivências, nos passeios que fazia com os vicentinos”, disse. Segundo a tia da beata, “a vida de Isabel foi um exemplo. Ela sonhava em ser pediatra para ajudar os pobres, agra vai interceder do céu”.
Para o tio de Isabel Cristina, Miguel Mrad, a beatificação é um momento de alegria e gratidão a Deus. “A família se sente feliz, mas ajoelhada e agradecendo a Deus por este momento”, disse em coletiva em imprensa após a celebração.
“A família, neste momento, tem um compromisso maior. Somos, graças a Deus, família de fé católica, mas este é um momento que está nos revigorando para que a gente continue com esta fé, porque á fé move montanhas”, declarou.
Para Miguel Mrad, a beata Isabel Cristina deixou “um exemplo não só para a juventude, por causa da idade dela, mas deu um exemplo para todos nós que professamos a fé católica”. “Façamos uma análise de nossa vida para ver quanto vale a nossa fé, porque só a fé que nos dá força a cada dia”, disse. “Ela pode ser esse exemplo para toda a sociedade barbacenense mineira, brasileira, mas é para o mundo”.
A artesã Maraisa Andreza, de 18 anos, da cidade de Resende Costa (MG), considerou “gratificante” poder participar da beatificação de Isabel Cristina. Para ela, “é bonito ver a santidade nos jovens”.
“Eu espero que minha vida faça diferença na vida de outras pessoas, que eu possa evangelizar. E entendo que a vida dela foi isso e está aí hoje como um exemplo para os jovens, para as meninas, para todos. Ela nos mostra que, na vida da gente, em primeiro lugar sempre deve estar Deus”, disse à ACI Digital.
O professor Arthur Coimbra Santana, de 31 anos, da cidade de Barbacena, disse que é “uma alegria muito grande ter alguém próximo de nós no céu”. “Lembro de uma homilia que ouvi e o padre falava do martírio dela e isso é uma motivação a mais para seguir nesse caminho de santidade. Ver Isabel, o seu martírio, algo que parecia não ser desses tempos, é um estímulo. Que possamos pedir a Deus para seguir o exemplo dela”, declarou.
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